Hoje vou falar sobre um assunto muito polêmico:

O açúcar pode ou não ser utilizado para tratar feridas????

Hummmm…..Vamos lá!

Quem me conhece sabe que eu não falo por mim, pela “minha” opinião.

Eu falo baseada em estudos e artigos científicos. E fiz uma busca na literatura sobre isso.

Sobre o uso do açúcar em feridas, nós temos inúmeros artigos científicos, principalmente falando sobre o seu uso em feridas infectadas. Porém, não existem estudos científicos que comprovem a eficácia do açúcar em tratamento de feridas!

Mas da onde essa idéia?

A idéia de usar açúcar, mel e melaço em tratamento de feridas é muito antiga.

Nós temos relatos sobre essa prática documentados em papiros de cirurgiões egípcios datados de 1.700 AC, que faziam curativos com mel e açúcar.

Como você podem ver, é um produto bem desatualizado para uso no mercado em 2021, não é mesmo?

No Egito antigo, a medicina e a magia se misturavam em um conjunto de práticas

4 erros que você comete usando açúcar em ferida

1. Resseca a ferida

O açúcar tem poder bactericida pela sua osmolaridade, pois a sacarose é hiperosmótico.

Por ser hiperosmótica, ela acaba destruindo a parede bacteriana, o que explica o grande número de artigos científicos falando sobre o uso do açúcar em feridas infectadas.

Além disso, essa hiperosmolaridade proporciona a diminuição do edema local, estimula os macrófagos e a formação rápida do tecido de granulação. Porém, a hiperosmolaridade resseca demais o leito da ferida e está cientificamente comprovado que a cicatrização é incrivelmente mais rápida em meio úmido.

A cicatrização através do meio úmido tem as seguintes vantagens quando comparadas ao meio seco:

2. Dor

O açúcar aplicado na ferida, dói muito!

Isso ocorre pelo ressecamento das terminações nervosas (ocasionada pela ação hiperosmótica), onde elas ficam mais expostas e o paciente sente muita dor!

A dor altera a pressão arterial e uma pressão arterial alta reduz o fluxo de sangue para as áreas distais do organismo, diminuindo muito a velocidade do processo cicatricial das feridas.

3. Crescimento de bactérias

Após o acúcar dentro da ferida, ele, que é um pó seco, entra em contato com o exsudato (líquido que sai de dentro da ferida), formando um gel ou uma pasta, dependendo da quantidade de exsudato que a ferida está produzindo.

Esse conteúdo é muito propício para o crescimento de bactérias. Muito propício mesmo!

E se esse gel, que é um excelente “meio de cultura” ficar em contato com a ferida muito tempo, vai crescer a população de bactérias e aumentar a infecção local na ferida. Isso é um perigo!

Mas….você não me disse que o açúcar “destrói as bactérias pelo seu efeito hiperosmótico”?

Sim! Isso acontece nas 2 primeiras horas que o açúcar está em contato com a ferida. Depois de 2 horas, esse conteúdo só serve de alimento, meio de procriação das bactérias, ok?

lesão crônica infectada.

4. Trocas frequentes

Para ter efetividade no controle de bactérias, o curativo com açúcar deve ser trocado a cada 2 horas, ou seja, 12 trocas de curativos durante 24 horas….

Porém estudos recentes mostram que a ferida, para ter a duplicação celular e cicatrizar mais rápido precisa estar na temperatura corporal e para que isso aconteça, o curativo depois de ocluído (fechado) demora em media 6 a 8 horas para que a ferida atinja a temperatura do corpo do paciente.

Com trocas frequentes, a velocidade da cicatrização cai muito, sendo uma péssima escolha quando comparado a inúmeras tecnologias que nós temos no mercado atualmente para tratar feridas! (***essa sim é minha opinião! )

E você?

Já teve alguma experiência com uso de açúcar em feridas?

Deixe aqui nos comentários!

Sucesso!!

Karina Trovarelli

Enfermeira Estomaterapeuta

Respostas de 3

  1. Oi Karina! Muito bom saber de tudo isso, gostaria que você falasse sobre o leite de magnésia como tratamento de feridas.

  2. muito bom. apontou os problemas mas nenhuma solução.
    açúcar na ferida já é quase desespero pois os tratamentos convencionais falharam.
    qual seria a alternativa?

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